A terceirização da produção no exterior ou outsourcing internacional foi inaugurada pela Nike no início da década de 60. A maior fabricante de tênis e artigos esportivos do mundo mostrou ao longo dos anos a milhares de empresas os benefícios da mão de obra mais barata e custos menores de produção. Mas as cadeias de valor global mudaram drasticamente com a interrupção do suprimento causado pela pandemia da COVID, de acordo com dados do Banco Mundial (Pandemic, Climate Mitigation, and Reshoring).
Desde então, as empresas têm repensado a localização de suas fábricas pelo mundo. Os custos logísticos, antes afetados apenas por recessões mundiais, mudaram radicalmente no cenário pós pandemia, agravado ainda mais pela guerra na Guerra na Ucrânia.
Será que estamos vivendo a era de desintegração da economia mundial, algo como uma “desglobalização” ou o início de uma globalização descentralizada?
Grandes empresas como Accel Group estão adotando o reshoring (retomada da produção ao país de origem) para reduzir os prazos de entrega e controlar custos.
O offshoring ou outsourcing Internacional traz benefícios e vantagens , dependendo do tipo de operação da empresa. Neste artigo iremos analisar as duas opções (terceirização no exterior e retomada da produção no Brasil).
Quando o Brasil iniciou de forma mais ampla sua abertura ao mercado internacional, no início dos anos 90, começou uma nova era no país. As indústrias brasileiras inauguraram um ciclo de expansão, ligado diretamente à importação de insumos vindos de países que os fabricavam com mais qualidade, e que mesmo com os impostos e custos gerados na operação, tornavam mais barata a produção no Brasil.
O mundo começava a viver um ciclo dentro da globalização mundial, com a vasta oferta de produtos na China e Índia. A importação se tornava a melhor opção para a saúde operacional e financeira das empresas. Surgiram produtos com preços competitivos, qualidade superior, e até mesmo a inovação e tecnologia a seu favor.
Terceirização da Produção
Com o boom de fábricas estrangeiras e tecnologias capazes de oferecer bens de consumo, de capital e de telecomunicações com qualidade, estabeleceram-se as vantagens da importação. Ainda havia grandes desafios, como a infraestrutura deficiente dos nossos portos e aeroportos, mas seguiram-se melhorias e investimentos, diminuindo o algoz chamado Custo-Brasil. A criatividade e versatilidade do empresário brasileiro o ajudou ao longo dos anos a vencer os obstáculos logísticos e a vencer suas batalhas comerciais, para ter sucesso em vários segmentos.
A necessidade de importar ficava mais próxima do empresário brasileiro, e cresciam as operações.
Com a pandemia surgindo na China (parque fabril do mundo) e proliferando para o mundo inteiro um vírus que obrigaria o fechamento de toda a cadeia de abastecimento, desde as próprias fábricas até rodovias, portos, aeroportos, fronteiras em geral, a realidade mudou rapidamente. Muitas viagens para a China foram canceladas, o que resultou na falta de contêineres, em função do acúmulo de cargas. Outros agravantes foram o sucateamento de navios; a crise do Canal de Suez e capacidades aduaneiras reduzidas em diversos países.
Desta forma, aconteceu um aumento no custo do frete nas importações. Por exemplo, o valor do frete da Ásia aumentou em 446% no mesmo período e mantém-se 7x mais caro do que antes da pandemia*. Ainda vivemos essa crise e há previsões de normalidade apenas para o ano de 2023. Em relação à variante Delta, algumas repercussões no frete também ocorrem, como, por exemplo, os atrasos pela diminuição do fluxo de transporte marítimo e aéreo, além das questões aduaneiras ligadas a protocolos sanitários e o encarecimento de todo o processo logístico. Além disso, grande parte das feiras internacionais de negócios B2B foram canceladas ou adiadas.
* Fonte: CNI – Portal da Indústria
Com esse gargalo logístico, empresas brasileiras não conseguiam receber suas importações, e quando recebiam, tinham que desembolsar mais (principalmente devido ao frete internacional, drasticamente inflacionado). Depois de quase 3 anos nesta realidade, o que a Pandemia nos mostrou é o quanto ficamos reféns os do sistema global atual, não apenas dos países chave como China e Índia como da malha de transporte internacional (especialmente o marítimo). Dessa forma, a importação poderia retomar paulatinamente seu ritmo.
Agora é hora de fabricar no Brasil
Com o cenário bem caótico em relação a logística global, é desafiador de fato ser importador.
Nasce então a necessidade da terceirização da produção no Brasil, e não mais no exterior.
Traçar um planejamento de montagem de uma linha de produção, contratação e formação de profissionais, (não somente “chão de fábrica”) pode ajudar a produção a se tornar de fato um projeto de sucesso do empresário brasileiro.
O desafio será enorme. O custo Brasil ainda é altíssimo, e num cenário onde está tudo inflacionado, inclusive imóveis, abrir uma fábrica pode ser traumático. Mas a coragem do empresário tem de ser muito grande também.
Sabemos que a importação ainda continuará fazendo parte da realidade, pois o Brasil não é autossuficiente.
Devo optar pela terceirização internacional?
Por mais desafiador que seja, o que a Pandemia trouxe de lição é: Não fique refém apenas de uma opção. Contar apenas com sua fábrica no Brasil ou somente com a importação não é um bom negócio.
Para tomar a decisão quanto a terceirização da produção no exterior, a empresa precisará realizar uma análise completa que envolve: logística, internacionalização, capital humano, análise operacional, fiscal e financeira.
Num mundo totalmente globalizado, de ideias e soluções cada vez mais criativas, é preciso estar constantemente repensando à nossa maneira de produzir.
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Artigo foi revisado por Gabriel Bernardes.
Gabriel Bernardes é despachante aduaneiro e fundador da Academia do Comex
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