As decisões empresariais mais estratégicas quase nunca são tomadas sob cenários ideais, nos quais os desdobramentos são medidos de maneira científica, como se obedecessem a “business plans” à prova de contingências. Normalmente, grandes mudanças de paradigma aparecem nos períodos de turbulência e novos cenários. A pandemia do Coronavírus, por exemplo, mostrou a todos que as cartilhas de crise muitas vezes não trazem as respostas certas. Nós logísticos nunca imaginados surgiram da noite para o dia. É aí que aparece o tamanho do gestor – e de sua flexibilidade e capacidade de resolver questões cruciais.
Um exemplo é o lançamento de novos produtos. Se for um produto crítico e de grande apelo ao cliente, o risco de problemas aumenta, e o executivo precisará lidar com vários focos ao mesmo tempo. Como fazer? Contratar pessoas? Especializar rapidamente a mão de obra? Não há solução mágica. Mas há iniciativas cujos resultados são possíveis. Muitas empresas têm utilizado a terceirização (ou outsourcing). Trata-se de uma modalidade antiga, mas em franca expansão, com soluções cada vez mais sofisticadas. As empresas seguem uma premissa antiga no mundo profissional: melhor deixar a especialidade para o especialista. Países como a Índia, China, Filipinas e Hungria são conhecidos pela programação de softwares para outros países. O Vietnã é especializado em construção, Fintechs e manufatura.
Resumindo as camadas
Outsourcing (terceirização) é, de maneira geral, transferir tarefas, operações, trabalhos ou processos para uma força de trabalho externa, contratando terceiros por um período determinado. As principais camadas de terceirização são: offshoring, onshoring, nearshoring e reshoring.
Durante um bom tempo, passar a produzir em outros países foi a tábua de salvação para as indústrias brasileiras, em função do descontrole nos custos das empresas no País. Altas bruscas nos preços de energia, commodities, logística e câmbio irreal, além dos juros para o crédito, tornavam a produção praticamente inviável no Brasil. O onshoring é o mesmo conceito, mas a uma menor distância. Parte da produção acontece em algum estado ou cidade dentro do próprio país. A logística torna-se mais simples para os produtos acabados. Além disso, as restrições de viagens pós-pandemia complicaram o cenário e o onshoring não traz problemas em relação a isso. Além, é claro, da sustentabilidade – viagens mais curtas significam menos emissões de carbono.
Dentro do onshoring, há também o nearshoring, que consiste em terceirizar em um país vizinho ou que estejam ao menos no mesmo continente. Ao usar essa abordagem, as empresas não enfrentam os riscos associados à produção terceirizada em outros países, como diferenças culturais ou políticas fiscais estrangeiras, sem mencionar que investem na economia de seu país.
Já o reshoring consiste no movimento contrário: a retomada dos processos industriais que já foram realizados em outro país para dentro das fronteiras nacionais. A lógica é, trazer de volta empregos que foram “exportados”. O Brasil viveu movimentos de reshoring de países asiáticos durante a pandemia.
Então, se você não quer gastar muito dinheiro no processo de recrutamento, há práticas que hoje aparecem como naturais para processos temporários ou definitivos. Embora esses termos todos representem o mesmo conceito de pagar terceiros para fazer algum trabalho para sua empresa, é importante entender melhor as diferenças.
O Onshoring é o caminho?
Esses caminhos têm idas e voltas e às vezes se torna complexo. O iPhone é um exemplo de produto com cadeia global de valor – é concebido na Califórnia e manufaturado na China com componentes vindos de diversos países, para depois ser exportado para o mundo todo. É um exemplo clássico de Offshoring. Países distantes, geralmente Índia, China ou Filipinas, têm pools de mão de obra e despesas baixas. A diferença de fuso horário desempenha um papel significativo em manter seu negócio funcionando 24 horas por dia. Outra vantagem: a empresa “fora da costa” ou “fora de território”, é sujeita a regimes também extraterritoriais. São registradas em jurisdições com baixa tributação ou até mesmo isentas.
O nearshoring traz os ganhos da proximidade. Fala-se a mesma língua ou uma língua similar, há realização de reuniões presenciais com mais frequência, a um custo menor. A maior compatibilidade cultural reduz as chances de mal-entendidos e facilita a coordenação do trabalho.
Reshoring: De volta ao país
O reshoring começou a tomar força a partir da virada do século, no ano 2000, com uma crise econômica de nível global, que introduziu um controle de custos extremamente rígido às organizações. Os Estados Unidos e a Itália trataram de encabeçar o retorno de suas cadeias produtivas para os territórios nacional, muitas delas fixadas na China, Índia e no Leste Europeu.
No Brasil, com o gargalo logístico criado na pandemia, empresas brasileiras sentiram fortemente isso, não conseguiam receber suas importações, e quando recebiam, tinham que desembolsar mais (principalmente devido ao frete internacional, drasticamente inflacionado) .‘‘Após quase 3 anos vivendo isso, a Pandemia nos mostrou o quão reféns estamos do sistema global atual’ explica o Despachante Aduaneiro Gabriel Bernardes e fundador da Academia do Comex. O produtor brasileiro parece estar sem alternativa, mas uma operação meticulosamente planejada, com gente experiente, pode ser uma excelente saída. Por mais desafiador que seja, o que a Pandemia trouxe de lição é: não fique refém apenas de uma opção. Depender apenas de sua fábrica no Brasil ou de importação pode deixar você na mão.
Vantagens da Terceirização Internacional
Uma vantagem descrita por empresários é que no Offshoring um fornecedor de terceirização geralmente trabalha com muitos clientes, o que lhe permite entender os problemas e tendências atuais do setor. Você pode usar essa experiência a seu favor.
O fuso horário pode parecer um empecilho, mas você pode transformá-lo em um benefício. Digamos que seu desenvolvedor esteja criando seu produto nos Estados Unidos. Enquanto ela dorme, sua outra funcionária na China está testando a funcionalidade que ela desenvolveu. Quando ela acorda, os técnicos já registraram um bug crítico que ela pode corrigir até o almoço. Você também pode enviar suas instruções antes de ir para casa à noite e vir ao escritório na manhã seguinte para encontrar as tarefas entregues. Além disso, offshoring não se limita ao desenvolvimento de software; você pode usá-lo para marketing, relatórios, serviços de suporte e assim por diante.
Para proteger o seu negócio, você precisa estabelecer relacionamentos de confiança e duradouros. Ao construir sua equipe remota, certifique-se de contratar trabalhadores autônomos. Certifique-se de que cada um deles possa autodirigir seu trabalho e não exigirá atenção e aprovação constantes.
Resumindo
A princípio, pode parecer que a diferença entre offshoring, nearshoring e onshoring é apenas a distância. Mas em nosso mundo digital, a proximidade territorial não deve ser o principal fator ao decidir quais dessas abordagens de terceirização devem ser consideradas. Primeiro, você deve definir suas prioridades e definir o que está tentando alcançar e se seria adicionando sangue novo à sua equipe. O que você espera? O menor custo, o menor ruído ou um equilíbrio?
Somente quando você tiver uma visão clara das responsabilidades, dos deveres e das habilidades necessárias de seus futuros funcionários, poderá decidir qual abordagem seguir.
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