Entenda como a guerra entre Rússia e Ucrânia pode parar a produção mundial e aumentar ainda mais os preços das commodities agrícolas.
No dia 24 de março, o conflito militar entre Rússia e Ucrânia, que colocou o mercado de exportação sob fortes incertezas, completou 30 dias.
Atualmente, a Rússia e a Ucrânia respondem por cerca de 30% das exportações mundiais de trigo. Além disso, são extremamente importantes no fornecimento de petróleo e gás.
Alguns números podem dar a dimensão do fato: na Alemanha, por exemplo, dois terços de todo o gás consumido vêm daquela região, e um terço do petróleo, da Rússia.
Como se não bastassem esses números, o país russo também é um dos maiores fabricantes mundiais de fertilizantes. O efeito sobre a produção direta destes países e na produção de outras nações, via fertilizantes, seria bastante significativo.
Ou seja, o conflito pode gerar uma grande parada da produção mundial, forçando o aumento de preços. Isso é conhecido na academia por “estagflação”. Não é a conjuntura básica, mas devemos estar atentos aos desdobramentos do conflito.
Se o conflito se estender por mais tempo ou as sanções atingirem em cheio a venda do petróleo russo, haverá, sem dúvida, aumentos expressivos no preço do barril ao redor do planeta.
Com isso, o ciclo de alta de preços das commodities agrícolas pode se estender por mais algum tempo.
Bandeira da ucrânia com um soldado
Por que a Rússia quer invadir a Ucrânia?
A Rússia e a Ucrânia têm uma longa trajetória de conflitos que remetem ao final da Guerra Fria, em 1991, que culminou na dissolução da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).
Desde então, há partes da Ucrânia profundamente ligadas à Rússia: as relações de cunho cultural, como no caso do idioma; o russo é falado amplamente em parte do território ucraniano, como em porções mais ao Leste.
Além disso, na época da derrubada do bloco soviético, a Ucrânia ficou com o terceiro maior arsenal atômico do mundo, já que enquanto era parte do grupo, era uma das zonas mais populosas e responsável por armazenar parte das armas nucleares.
Com o fim do conglomerado, negociou-se a retirada dessas armas da Ucrânia, que abriu mão delas em troca de garantias de que os russos não atacariam suas fronteiras e respeitariam a soberania local.
Uma das razões que reacendeu as tensões, desta vez, foi a crescente aproximação da Ucrânia com o Ocidente pelo interesse do governo local de entrar na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) ou, mesmo, na União Europeia (UE).
A OTAN é uma aliança militar, criada em 1949, formada por 30 nações, dentre elas, grandes potências ocidentais como os Estados Unidos, a Alemanha, a França e o Reino Unido.
Como a Ucrânia é praticamente o território que separa a Rússia da União Europeia, os russos passaram a ver a proximidade como uma ameaça aos seus interesses políticos, comerciais e zonas de influência russa no Leste Europeu.
Produtos que o Brasil importa para a Rússia
Ao longo de 2021, o mercado russo comprou US$ 1,7 bilhão do Brasil, sendo o 36.º país na lista de mercados consumidores. Ou seja, a Rússia responde por 0,6% das exportações brasileiras.
Os produtos mais vendidos pelo Brasil para a Rússia foram: soja (US$ 343 milhões), carnes de aves (US$ 167 milhões), carne bovina (US$ 137,6 milhões), amendoins (US$ 130 milhões), café não torrado (US$ 133 milhões) e açúcares e melaço (US$ 127 milhões).
Como ficam as exportações de suínos para a Rússia
Em 2021, o Brasil exportou pouco mais de 9 mil toneladas de carne suína para os russos, com receita de quase US$ 24 milhões. Esse volume respondeu por cerca de 0,8% dos embarques da proteína em 2021.
Os conflitos devem afetar as exportações dos suínos do Brasil para a Rússia, no entanto, o impacto será limitado.
A grande dificuldade está em encontrar novos navios e continuar o fluxo de comércio, já que há uma desconfiança de armadores para viajar em uma zona de guerra.
O fluxo dos embarques para a Rússia será afetado devido à escalada no conflito, mas os produtos brasileiros devem chegar ao seu destino. A grande questão está no aumento dos preços que será inevitável.
O que o Brasil vai poder importar da Rússia?
Com os conflitos entre Rússia e Ucrânia, o Brasil está colocando o pé no freio nas importações.
O aumento de preço vai ser inevitável. A Rússia é o maior exportador de trigo do mundo e o Brasil é um grande importador. Assim, o Brasil vai pagar mais caro para ter o trigo.
Em relação aos fertilizantes, 80% são importados, e a Rússia e a Bielorrússia são dois dos principais fornecedores do produto ao Brasil.
Contudo, o governo federal deve lançar ainda neste mês de março um plano nacional para ampliar a produção dos insumos no país.
Quais os produtos que a Rússia importa para o mundo?
Saiba quais são os produtos que a Rússia importa para o mundo e os impactos após o conflito com a Ucrânia.
Petróleo
A economia da Rússia depende significativamente da exportação de petróleo e gás. O país é o terceiro exportador de petróleo do mundo (depois da União Europeia e da Arábia Saudita) e um dos maiores exportadores de gás.
Antes da invasão da Ucrânia, a Rússia fornecia um em cada dez barris de petróleo que o mundo consumia.
Agora, porém, com a guerra e o anúncio de Estados Unidos, Canadá e Reino Unido de proibir a importação de produtos de energia russos, o mercado internacional de petróleo enfrenta sua maior turbulência desde a década de 1970.
É provável que os preços continuem subindo enquanto a guerra durar já que há poucas alternativas para substituir as exportações russas de aproximadamente 5 milhões de barris por dia.
Quais são os maiores produtores de petróleo no mundo?
A Ucrânia é o 60.º país em produção de petróleo do mundo com 32.070 barris de petróleo/dia. Veja os maiores no mundo e entenda melhor os reflexos da guerra para aqueles que dependem de importação.
O que foram os choques do petróleo
O primeiro choque do petróleo ocorreu em 1973, quando os países do Oriente Médio descobriram que o petróleo é um bem não-renovável e que, por isso, acabaria algum dia se ações não fossem tomadas.
Os produtores então diminuíram a produção, elevando o preço do barril de US$ 2,90 para US$ 11,65 em apenas três meses.
As vendas para os EUA e a Europa também foram embargadas nessa época devido ao apoio dado a Israel na Guerra do Yom Kippur (Dia do Perdão). Em decorrência, as cotações chegaram a um valor equivalente a US$ 40 nos dias de hoje.
No gráfico abaixo, vê-se o comportamento da exportação de petróleo dos Estados Unidos nas sucessivas crises que tiveram choque na economia mundial:
Fonte: EIA – Preços do Brent
Alimentos
Tanto a Rússia como a Ucrânia são grandes exportadores de produtos alimentícios. Os dois países, conhecidos como o celeiro da Europa, representam 29% das exportações globais de trigo e 19% das de milho, segundo dados do banco JP Morgan. Os preços do trigo em algumas bolsas de futuro têm sido negociados nos maiores valores em 14 anos.
A Ucrânia é o maior produtor mundial de azeite de girassol, e a Rússia ocupa o segundo lugar, segundo a S&P Global Platts. Juntos, representam 60% da produção mundial.
Tanto o trigo como o azeite de girassol são matérias-primas importantes, utilizadas em muitos produtos alimentícios.
Se a colheita ou o processamento são prejudicados, ou se as exportações são interrompidas, as nações importadoras precisam encontrar formas de substituir esse fornecimento.
O impacto da guerra na produção de grãos pode chegar a duplicar os preços internacionais do trigo. Isso poderia afetar gravemente vários países que dependem das importações de grãos vindas da região do Mar Negro.
Turquia e Egito recebem quase 70% de suas importações de trigo da Rússia e da Ucrânia, que é também o maior fornecedor de milho para a China.
Metais
A Rússia é um dos maiores fornecedores do mundo de metais utilizados em todo tipo de produtos, de latas de alumínio até cabos de cobre e componentes de automóveis.
O país é o quarto exportador global de alumínio e um dos cinco principais produtores mundiais de aço, níquel, paládio e cobre. A Ucrânia também é um importante fornecedor e possui uma importante participação na exportação de paládio e platina.
Isso significa que, devido à invasão da Ucrânia pela Rússia, poderemos ver um aumento de preços dos produtos enlatados e de cabos de cobre.
Impactos no preço
Com a queda nas exportações, há menos entrada de dólares na economia, o que pressiona ainda mais o câmbio, gerando compressão na inflação e obrigando o Banco Central (BC) a manter os juros altos. O resultado: contração econômica. Sem contar que uma crise maior no setor imobiliário pode afetar a confiança dos agentes mundiais em países em desenvolvimento.
A incerteza em relação à capacidade de produção e exportação dos grãos pela região do Mar Negro devem manter a volatilidade do mercado.
Na sexta-feira (19/04), os principais contratos na bolsa americana recuaram com os operadores do mercado ainda acompanhando o andamento das negociações entre autoridades russas e ucranianas para encerrar o conflito.
Contudo, pelo menos até o mês de setembro, os preços se mantêm acima dos US$ 10 por bushel. O trigo para entrega em maio de 2022 caiu US$ 0,34, fechando a US$ 10,36 o bushel. O vencimento de julho caiu US$ 0,31, ajustando para US$ 10,44. Setembro ajustou pata US$ 10,05 (-US$ 0,25) e dezembro a US$ 9,65 (-US$ 0,20).
O milho, que também tem nos ucranianos importantes fornecedores mundiais, acompanhou o movimento na sexta-feira (19) nos contratos de prazo mais curto. Maio de 2022 ajustou para US$ 7,41 o bushel (-US$ 0,12), julho de 2022 fechou a US$ 7,12 (-US$ 0,06) e o contrato para setembro de 2022 encerrou a sessão cotado a US$ 6,64 (-US$ 0,02).
Já o contrato com vencimento em dezembro deste ano fechou em alta de US$ 0,04, fechando a US$ 6,45, movimento acompanhado pelos contratos de prazo mais longo na bolsa de Chicago.
Conclusão
Acompanhar de perto as mudanças é vital para entendermos como todas estas oscilações podem influenciar a nossa economia. Os canais entre os países são muito fortes, e qualquer alteração ocorrida lá pode ser sentida por aqui. E com força. Infelizmente, o cenário mundial parece ser cada vez menos favorável.
Artigo revisado por André Sacconato, economista da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) e membro do Conselho de Economia Empresarial e Política da mesma instituição. PhD em Economia, Relações Governamentais e Ambiente de negócios, também é professor do MBA da FIA-USP.
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