A integração por infraestrutura, a conveniência logística e a especialização produtiva levaram três Estados brasileiros a terem, pela primeira vez, países limítrofes como principal destino de suas exportações. Enquanto Roraima exportou mais para a Venezuela em 2022, Amazonas vendeu mais para a Colômbia, e o Acre, para o Peru.
Ainda que não represente o fluxo majoritário do comércio exterior brasileiro, cujos principais mercados são Estados Unidos e China, o movimento desses Estados deve crescer nos próximos anos, segundo especialistas.
Em 2022, o Acre exportou US$ 8,78 milhões para o Peru. Em 2021, o país havia comprado US$ 8,64 milhões do Estado e ocupado o segundo lugar no ranking de destino de suas exportações, segundo dados da Comexstat, do Ministério da Fazenda. Em 2021, os EUA foram o principal destino das vendas do Estado para o exterior, comprando US$ 11,38 milhões do Acre. No ano passado, as exportações do Estado para os EUA caíram para US$ 4,59 milhões, ocupando o terceiro lugar no ranking, atrás de Peru e Holanda.
O Amazonas exportou US$ 147,04 milhões para a Colômbia em 2022, ante US$ 103,27 milhões em 2021, quando o país ficou no segundo lugar do ranking. No ano anterior, a Venezuela havia sido o principal destino das vendas do Estado.
Impulsionadas pela crescente crise econômica na Venezuela, as vendas de Roraima para o país atingiram US$ 274,93 milhões em 2022, depois de chegarem a US$ 244,59 milhões em 2021.
O direcionamento das exportações dos Estados amazônicos para os países vizinhos se deve em grande parte às obras de infraestrutura que ajudam a conectá-los a mercados regionais via terrestre, diz Pedro Silva Barros, técnico do Ipea.
“No caso do Acre e de Roraima quase todo o comércio com o país vizinho se deu por via terrestre com infraestrutura construída neste século”, afirma Barros.
A pavimentação do trecho da rodovia BR-174 entre Boa Vista e Pacaraima e da troncal 10 entre Puerto Ordaz e Santa Elena de Uairén no Estado venezuelano de Bolívar foi concluída em 2001.
No Acre, a ponte entre Assis Brasil e Iñapari, no Peru, e a pavimentação da BR-317 entre Brasiléia e Assis Brasil começaram a ser construídas em 2004 e foram inauguradas em 2006. Ambas são projetos da Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana (Iirsa), que nasceu da primeira reunião de presidentes da América do Sul, em 2000.
Soma-se a isso a pavimentação dos trechos peruanos entre Iñapari e Cusco, via Puerto Maldonado, parte da carteira de projetos da Iirsa, inaugurados em 2010.
Estudo da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) da ONU, de 2022, de coautoria de Barros, mostra que o protagonismo de “Estados articuladores”, de conexão, como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Roraima e Acre vem crescendo nas exportações brasileiras.
“A produção brasileira está cada vez mais afastada dos tradicionais portos atlânticos, aproximando-se dos Andes e, portanto, dos portos do Pacífico e seus principais compradores”, afirma o estudo.
Em 2000, Argentina foi o principal destino das exportações de Amazonas e Acre, enquanto Venezuela foi a maior compradora de Roraima. Dez anos depois, a Argentina se mantinha como principal cliente do Amazonas, a Venezuela, de Roraima, e o Reino Unido passou a ser o do Acre.
A perspectiva no médio prazo, afirma Barros, é que as exportações de Estados articuladores continuem expandindo. “Elas têm aumentado muito mais do que a média do Brasil e o percentual dos que têm saída por terra consolidada, como Acre e Roraima, tem acelerado”, afirma.
As exportações de algodão, acrescenta o técnico, devem abrir novas possibilidades de exportações para o Pacífico.
Para o economista Sergio Vale, da consultoria MB Associados, os Estados da região Norte que em 2022 passaram a ter países vizinhos como principais compradores são exceção e não representam o movimento majoritário do comércio exterior brasileiro. As vendas feitas por eles a países fronteiriços se devem a questões logísticas e de proximidade geográfica, diz.
No ano passado, as exportações brasileiras somaram US$ 334 bilhões, alta de 19% em relação a 2021. A China foi o maior parceiro comercial do Brasil, e os EUA, o segundo. Ao todo, 14 Estados tiveram o mercado chinês como principal destino das exportações e seis, os EUA.
“Há o agronegócio dominando o Centro-Oeste, a nova fronteira agrícola, e o Sul. Essa presença forte da China, portanto, é fortemente esperada”, diz. “Mas nos Estados do Norte há questões como custo e proximidade, o que torna natural eles se voltarem para países vizinhos.” Vale argumenta que, como há dificuldade de se chegar ao oceano Atlântico, faz mais sentido o comércio se voltar para o outro lado. “Por causa de especificidade e questões logísticas, é natural ocorrerem essas exportações fronteiriças em Estados mais distante de portos”, afirma.
Lívio Ribeiro, economista da consultoria BRCG e pesquisador associado do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre) acredita que se trata mais de uma questão de especialização produtiva e menos de infraestrutura e logística.
Em 2022 os principais produtos exportados do Acre para o Peru foram castanha-do-pará fresca ou seca e milho em grão. No topo da lista de exportações de Roraima para a Venezuela, por sua vez, estão enchidos e produtos semelhantes de carnes, miudezas ou sangue, e margarina. Os itens que o Amazonas mais vendeu à Colômbia foram preparações para elaboração de bebidas e motocicletas com motor a pistão alternativo.
“É mais uma questão de especialização produtiva, de esses Estados estarem conseguindo se integrar regionalmente, do que de infraestrutura fazendo esses Estados exportarem mais para esses países”, argumenta Ribeiro.
Ele acrescenta que para 2023 havia a perspectiva de maior exportação de suínos do Acre para países como Peru e República Dominicana, mas as perspectivas agora estão nubladas devido ao foco de vaca louca no Pará. “Isso pode atrapalhar a exportação de proteína da região como um todo.”
Fonte Internet: Valor Econômico, 28/02/2023
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